Caminhamos… Caminhemos…
Somos todos peregrinos, com pés cansados e corações inquietos, atravessando os desertos deste mundo. As estradas que trilhamos estão marcadas por guerras que nos roubam o sono, por uma terra ferida que clama por socorro, por vidas partidas pela pobreza e pelo descaso. E, no entanto, seguimos. Seguimos porque há algo dentro de nós que não permite desistir. Seguimos porque, mesmo na noite mais escura, a esperança ainda sussurra: “Continue, Eu estou aqui”.
O Advento marca um novo começo e não, necessariamente, um recomeço. Recomeçar é começar de novo, é repisar o caminho já pisado. Novo começo é ver-se diante da grande do caminho e seguir por novas rotas. Não é abandonar ou jogar fora o vivido e o experienciado; pelo contrário, é, colocar na mala tudo o que aprendemos, conquistamos, todos os instrumentos e aparatos conquistados – com sorrisos ou lágrimas – e colocar-se a caminho, porque o caminho se faz ao caminhar. No coração, carregamos o melhor, o essencial: as pessoas que amamos, os amores vividos, o amor sentido e a vontade de caminhar.
Não à toa, o tempo litúrgico do Advento começa em “descompasso” com o ano civil. Nem sempre nosso desejo, nossa vontade, nossa necessidade em encontrar caminhos novos estão “alinhadas” com o tempo externo… Advento é tempo interno… é tempo em que os pés andam, mas só o coração caminha. Parafraseando a canção: Caminhamos devagar, por já tivemos pressa, levamos este sorriso, porque já choramos demais.
O Advento vem, chega como um alívio, como um amigo que nos encontra no caminho e nos oferece água fresca. Ele nos convida a parar por um instante, a olhar para dentro, a ouvir as promessas antigas que ainda ecoam: “Consolai, consolai o meu povo. Preparai o caminho do Senhor” (Is 40,1-3). Mas como preparar o caminho quando tudo parece desmoronar? Como esperar quando o mundo nos oferece tantos motivos para o desespero?
Talvez a resposta esteja nos pequenos gestos, nos detalhes quase invisíveis. No abraço que conforta, na palavra que encoraja, na mão estendida a quem precisa. Talvez esteja em Maria, que também foi peregrina. Uma jovem que, ao ouvir o chamado, colocou-se a caminho, não porque tudo estava claro, mas porque confiava. Maria, com sua coragem silenciosa, nos ensina que a esperança não é uma certeza de que tudo dará certo, mas uma escolha de continuar caminhando, mesmo sem ver o horizonte.
E, enquanto caminhamos, encontramos histórias. Há o agricultor que, mesmo diante da seca, semeia sua terra com fé. Há a mãe que, com o pouco que tem, partilha alimento com os vizinhos. Há os jovens que levantam suas vozes para defender a floresta e a vida que nela pulsa. Essas histórias nos lembram que, embora as tempestades sejam reais, também o é a luz que insiste em romper as nuvens.
O Jubileu de 2025, um marco importante na História da Igreja como o são todos os jubileus, nos chama a sermos “Peregrinos da Esperança”. Esse é um convite para carregar a luz da esperança, para não sermos como os acendedores de lampião do “Pequeno Príncipe” que, muitas vezes, fazem as coisas sem compreender o sentido delas ou sem entender por quê. Devemos portar a luz da esperança não como algo grandioso ou distante, mas como uma chama simples, acesa em cada coração disposto a amar. A esperança, afinal, não decepciona (Rm 5,5) porque não depende de nós sozinhos. Ela é sustentada por um amor maior, que nos encontra nas encruzilhadas da vida e nos diz: “Eu estou com você”.
Neste Advento, enquanto preparamos a chegada do Menino, talvez possamos aprender a ver com outros olhos. Olhar para o irmão que sofre, para a terra que geme, para os sonhos que pareciam perdidos. E, ao olhar, perguntar: o que posso fazer? Como posso ser uma faísca de esperança no caminho de alguém? Como posso acender no meu irmão, na minha irmã, a luz da esperança que o mundo apagou, escondeu ou até nos fez acreditar que não éramos portadores dessa luz?
Assim, seguimos. Com passos vacilantes, mas cheios de propósito. Seguimos porque acreditamos que, ao final do caminho, há uma promessa que não falha: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). Seguimos porque sabemos que, mesmo quando tudo parece perdido, há um Deus que nos espera, de braços abertos, com a luz de uma nova manhã, com o sorriso de uma Criança.
E nessa espera ativa, nessa peregrinação de amor e confiança, encontramos sentido. Porque ser peregrino é mais do que andar. É caminhar. É carregar no peito a certeza de que a esperança não decepciona (Rm 5,5). E, enquanto ela viver em nós, nenhum deserto será intransponível, nenhuma noite será longa demais.
E assim, no Advento externo e interno, seguimos adiante como peregrinos da esperança. Somos guiados por uma promessa que não se apaga, sustentados pela luz que brilha na escuridão e pelo amor que nos renova a cada amanhecer. No Menino que vem, encontramos a certeza de que o impossível é tocado pelo divino, e que, mesmo nas noites mais longas, há um Deus que caminha conosco. Com Maria, aprendemos a confiar; com José, descobrimos a força do silêncio; e, juntos, podemos construir caminhos de paz. Que este tempo de espera nos transforme e nos prepare para viver como sinais vivos de esperança no mundo.
Que o Senhor da Esperança, que ilumina nossos passos no silêncio do Advento, faça do nosso caminhar uma chama que aquece e transforma. Que com Maria, Ele nos ensine a confiar; com José, a nos dar coragem no silêncio. Que nosso coração possa suplicar esperançoso: “Coloca Teu amor em mim, Senhor, para que eu seja luz nos desertos da vida. Seja tua promessa a força que sustenta nossos corações. Amém”.
Feliz e Santo Advento para nós! Que este seja um tempo de redescobrir a esperança em cada passo.
Diego Bello Doze – coordenador do CPP