Exultemos “a vitória de um Rei anunciando”
Se me perguntassem até algum tempo atrás qual a celebração mais importante na Igreja, quase que automaticamente eu diria aquilo que aprendi na catequese infantil: a Semana Santa e a Páscoa! Afinal nossa igreja é cristocêntrica e Cristo sofreu, morreu e ressuscitou para nos salvar. Pura decoreba assim como 7×7 são 49!
Gosto de pensar que isto mudou: a “decoreba” (as respostas automáticas)! Não sei se por crescimento na espiritualidade, por maturidade, por aprofundamento através do estudo ou pela pandemia. Continuo a afirmar que a Páscoa é, sim, a celebração mais importante do ano litúrgico, mas agora vejo que possui uma riqueza simbólica enorme, e quando bem preparada e bem celebrada é uma catequese extraordinária.
Hoje eu olho para o tríduo e a Páscoa e percebo quase que como uma única e grande celebração solene, como uma missa que começa na quinta-feira, dia em que se celebra a Missa da Ceia do Senhor, passando pela Sexta Santa do altar vazio, o sábado da Vigília e o domingo da Páscoa. Quando se bem celebra esta data, de repente, parece que tudo faz sentido.
No início do tríduo pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, são celebrados ao mesmo tempo a instituição dos Sacramentos da Eucaristia e da Ordem e nos é dado o mandamento do amor com o gesto do lava-pés. Na simplicidade rebaixadora do Deus Cristo que nos lava os pés está escancarada a direção que devemos seguir: servir com amor. Temos que responder com amor ao amor do Filho de Deus que nos amou até o fim, nos disse Frei Fidêncio
No fim da Missa, o Santíssimo Sacramento é trasladado para um outro local, desnuda-se o altar. A sensação é angustiante com o altar e a igreja vazios.
Para aqueles que costumamos participar das missas diárias a Sexta-feira Santa, é demasiado longa – não se celebra a Missa, tendo lugar a celebração da morte do Senhor. Resta-nos a adoração da cruz, o silêncio, o jejum e a oração. Aqui, nova catequese, lembro-me de frei Rodrigo que certa vez disse: Jesus não precisa de nossa tristeza, de nossa piedade, de nossa pena! Deus não precisa disto! Nós é que precisamos nos entristecer porque, por nossos pecados, Ele foi à cruz. Tenhamos pena de nós mesmos e peçamos perdão!
Na expectativa da Vigília Pascal, no Sábado Santo, nós (a Igreja) nos debruçamos no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor. Mas na Vigília Pascal, que é a “mãe de todas as celebrações” da Igreja, evocamos a Ressurreição de Cristo. É no anoitecer deste sábado de verdadeira exultação que, de fora da igreja, começamos a celebração com a bênção do fogo novo e do círio pascal. Esta bênção recorda a ressurreição do Senhor, que assim como o fogo, ilumina e aquece.
Segue então a Proclamação da Páscoa.
Foi ouvindo com particular atenção este cântico, o “Exulte”, que o clique me veio. Fiquei extasiado com simbolismo do canto que nos recorda a história da nossa salvação, desde a queda de Adão, da primeira Páscoa realizada por Moisés e pelos israelitas, dos acontecimentos da última Páscoa em que Jesus sofreu, morreu e ressuscitou dos mortos e pela qual a humanidade foi redimida.
Olhando nossa igreja toda escura iluminada apenas pelo Círio e por centenas de velas anônimas onde não se via a face de cada um, ainda assim cantávamos juntos o refrão em voz forte e confiante: Ó noite de alegria verdadeira! Reuni de novo o céu e a terra inteira!
As leituras e a homilia nos recordam a história da nossa salvação, a celebração da vigília continua com a liturgia batismal, tão rica em simbolismo, pois é através do batismo que renascemos com Cristo para uma vida nova e fazemos a renovação das promessas batismais. A água benta aspergida revigora, dá ânimo, dá esperança.
Rezamos a ladainha de todos os Santos, na qual a Igreja invoca a intercessão de todos que já estão com Cristo, na glória. Parece interminável e nem de perto chega aos mais de 20 mil santos reconhecidos oficialmente. Rezamos e rogamos aos santos pelos que já partiram, pela Igreja, pelo Papa…
A liturgia eucarística, o ápice da nossa Vigília é um sacramento cheio da Páscoa, isto é, da memória do sacrifício da Cruz, da presença de Cristo Ressuscitado fundamento da fé e da esperança da Igreja e uma antecipação da Páscoa eterna.
Nesta semana santa da Páscoa que você consiga perceber a grandiosidade deste tempo e que possamos juntos, sentir e vivenciar toda a grandiosidade de Deus.
Feliz Páscoa!
Luiz Fernando Ribeiro, equipe da Pastoral de Rua