Paróquia São Francisco de Assis

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Os estigmas de São Francisco

É comum ver São Francisco como uma figura acabada, pronta, sem olhar para a caminhada que ele fez até chegar à semelhança perfeita com o Crucificado. Os estigmas não foram um fenômeno isolado em sua vida, que era de oração e ininterrupta penitência. O que aconteceu no Monte Alverne é o cume de toda uma vida, de uma busca incessante em seguir as pegadas de Cristo.

Poderíamos dizer que as chagas do crucificado, começaram a gestar-se no corpo de São Francisco, desde o encontro em que o Crucifixo de São Damião mexeu os lábios e disse, chamando-o pelo nome: “Francisco, vai e repara a minha casa que, como vês, está toda destruída”; mais ainda, desde quando começou a descobrir Jesus Cristo nos pobres e leprosos Francisco traz impressas no íntimo de seu coração as chagas do Senhor.

Francisco lançou-se numa aventura, sem tréguas, na qual deu tudo de si: a vontade, a inteligência e o amor. As chagas recebidas, significam que Deus é Senhor de sua vida e que encontrou nele a plena abertura e a máxima liberdade para sua presença.

Colocando-se como centro da própria vida o homem se aliena e se destrói. O homem só encontra sua verdadeira identidade, sua própria consistência e o sentido de sua existência em Deus.

E Francisco fez esta descoberta no Monte Alverne, numa gruta que tem a maior das fendas por ele encontrada e que lhe recorda a hora da paixão e morte do seu Senhor na cruz, quando a terra tremeu e se abriu de dor, ele penetra no mais íntimo de si mesmo e perpassa por todas as vias que o seu Senhor lhe deu a caminhar. Francisco contempla e é visitado pelo seu Senhor.

Sente a sua doçura inefável, na dor de sua humanidade teme não ter respondido o amor do seu Senhor e chora pelo amor que não é amado. Vive momentos de trevas e é tentado. Reza para que Deus, o Altíssimo e Glorioso, ilumine as trevas do seu coração. Descobre que o amor de Deus por ação de seu Santo Espírito o quis e o iluminou no caminho a seguir e, assim, na gratuidade d’Aquele que o escolheu, pede duas graças: “Sentir a mesma dor daquele que tanto ama, na hora em que está na cruz e não ter menor amor do que ele teve, por aqueles que seu Pai e nosso Pai lhe confiou quando nos enviou”.

Graça pedida, graça alcançada após uma noite de intensa oração, despertado pela presença de uma forma estranha, de um Serafim com as asas abertas, que veio ao seu encontro e o envolveu como num abraço caloroso, enchendo-o de um prazer inexplicável. Quando a visão desapareceu no horizonte, pode sentir, ao mesmo tempo, misturarem-se à delícia do abraço amigo as dores agudas do martírio.

As chagas expressam que a vivência concreta do amor deixa marcas. Seguir o Cristo implica em morrer um pouco a cada dia. Não vivemos num mundo que queremos, mas naquele que nos é imposto. Não fazemos tudo o que desejamos, mas aquilo que é possível e permitido. Somos chamados a viver alegremente mesmo com aquilo que nos incomoda. Seremos nós mesmos na mesma medida em que formos capazes de assumir nossa cruz. O amor nos torna igual à pessoa amada, e com Francisco não foi diferente.

O que aconteceu no Alverne durante o mês de setembro de 1224, as chagas impressas na carne de nosso Pai São Francisco, significa e manifesta mais que tudo que Deus é Senhor, é o fundamento de tudo em nossa vida e na vida da graça: sem ela tudo é obscuro com ela, tudo é luz.

Monte Alverne é para São Francisco uma experiência única na vida com Deus. As Chagas que portou durante dois anos foram o sinal permanente desta experiência e o mantiveram unido a ela. Também para nós o Alverne é uma lição altíssima e intensa, mensagem forte, um estímulo poderoso nos chamando à vida com Deus, em Cristo na Cruz, para a Páscoa da Ressurreição.

Francisco cumpriu a sua missão, que o Senhor nos ensine a cumprir a nossa e, como seus verdadeiros seguidores e filhos, recomecemos a partir de nós mesmos a transformar este mundo numa grande e única “casa do Senhor”, onde a paz seja estabelecida definitivamente, onde a vida seja preservada e onde a luta de cada um seja pelo último lugar e pela oportunidade de lavar os pés do outro.

Antonio Julio Martins
Da Ordem Franciscana Secular (OFS)

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