Paróquia São Francisco de Assis

Rua Borges Lagoa, 1209 - Vila Clementino - São Paulo - SP

(11) 5576-7960

paroquiavila@franciscanos.org.br

Bordados com as linhas da esperança

Bordados com as linhas da esperança

 Há alguns anos, ao visitar um querido amigo no hospital, pouco antes de sua Páscoa definitiva, sua esposa, no café, perguntou-me: “Vai demorar muito pra passar [a dor]?” Minha resposta foi breve… “Não sei”. O tempo é de cada um, pois não estamos falando do tempo cronológico, mas do tempo da experiência; o caminho não é linear e sucessivo, mas é percorrido por planícies, montanhas e vales de lágrima. Não existe uma resposta, uma fórmula… o tempo de ressignificar a dor é de cada um.

Isso tudo porque o amor… ah, o amor… ele é, ao mesmo tempo, remédio e cura. Quem já ficou doente sabe que não basta o medicamento, é necessária a dose certa, o tempo certo do “antibiótico”, não podemos “nos dar alta” antes do tempo. “O tempo cura”, quem nunca ouviu essa expressão, mas como dizia minha avó, “se tempo fosse remédio, era vendido em farmácia”.

Não, o tempo não cura. Não, a dor não some de um dia para o outro. A dor é uma ferida aberta que, à medida que cicatriza, se torna saudade. Cicatrizes na alma por entes queridos que já partiram, não são vergonha ou sinal de fraqueza… ouso dizer que é o contrário, é coragem de quem se arriscou a amar muito! O tempo não cura, todavia ressignifica, isto é, dá novos significados, encontra outras prateleiras dentro da gente para morar e nos ajuda a entender que aquele amor não se perdeu. Ele nos convida a dar novos passos, mesmo quando parece difícil seguir em frente.

O tempo… sempre o tempo… ele suaviza a dor – que dias virão com tudo, como uma pontada tão aguda que explode dentro da gente e se esparrama em lágrimas que, mesmo que a gente ache que são dor, são de amor, de gratidão e de esperança. É como se, lentamente, o coração se abrisse para o consolo divino, sentindo que a vida não termina, mas se transforma.

Já que ele não, então o tempo é um vilão? Jamais!                             

Ele é instrumento divino do amor, ou melhor dizendo, do Amor, do Divino Amor que do caos, da escuridão fez a luz; e, se permitirmos, faz dos nossos caos, das nossas escuridões, luz, dias novos e novos dias. Falar de tempo é falar de espaço também; espaço do nosso jardim interior onde Ele vai renovando nossas forças, nos ajudando a transformar a tristeza em paz. O amor de Cristo, derramado em nossos corações, trabalha em nós com o passar dos dias, como se nos dissesse: “Eu estou com você; você não está sozinho”. A nós, cabe elevar o coração em prece e dizer com a música: “Senhor, eu te convido a entrar no meu jardim, passeia pelas flores que o Teu amor plantou. Divino Jardineiro, ó vem para ficar e encher do Teu perfume, meu coração em flor!”.

É tempo de ressignificar… Com o tempo, começamos a compreender que nossos entes queridos continuam vivos na plenitude de Deus e que um dia estaremos juntos. Esse horizonte eterno é o bálsamo que o tempo nos traz, lembrando-nos de que a saudade é temporária e que, na eternidade, o amor será pleno.

Portanto, o tempo não cura porque não apaga, mas ressignifica porque nos transforma, porque permite que a saudade se revista de esperança e nos leve a confiar mais na promessa de Deus. O amor não morre e, no tempo de Deus, toda dor se tornará alegria. Amor que se expressa no coração, na memória, na poesia…

A vida é um dever, o poeta dizia,

um fio que se estende além do adeus,

um instante bordado a cada dia,

um chamado que o tempo escreveu.

Cada passo é mais que passagem,

cada abraço, eterno aconchego,

na saudade mora a coragem

de ouvir o silêncio, sentir sua voz.

Jó, em sua dor, clamou com fervor:

“Meu redentor vive, ele virá”,

mesmo na ausência, sussurra o amor

que a morte jamais apagará.

Quem parte, não se perde no tempo,

vai além da sombra, abraça a luz,

vive na outra extremidade do horizonte,

ao qual Cristo nos conduz.

Deus é Pai e Deus é Mãe,

em seu amor que não perde ninguém,

Ele acolhe nossos amores na eternidade,

onde toda lágrima um dia se vai também.

E assim, entre a dor e a lembrança,

andamos descalços, tiramos o escudo,

somos saudade, somos esperança,

e na fé, o luto se faz menos mudo.

Nosso coração guarda o segredo:

a vida é um dom, um breve sorriso,

que na morte se encontra o enredo,

e na eternidade, o paraíso.

 

artigo por:Diego Bello Doze

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.

X