Paróquia São Francisco de Assis

Rua Borges Lagoa, 1209 - Vila Clementino - São Paulo - SP

(11) 5576-7960

paroquiavila@franciscanos.org.br

Entrevista com Frei Fidêncio: Agradecer ao Senhor pelos 350 anos

Entrevista com Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM   

  1. Frei Fidêncio, estamos chegando aos 350 anos da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Para o senhor, o que mais vale a pena celebrar nesse momento tão especial?

Celebrar os 350 anos da Província me remete em primeiro lugar às palavras do Papa Inocêncio III, quando Francisco e seus primeiros companheiros foram a Roma, em 1209, para pedir ao Papa a permissão para viver esta forma de vida na Igreja. A resposta do papa é significativa porque é válida para todos os frades em todos os tempos: “Irmãos, ide com o Senhor e pregai a todos a penitencia”. Assim, a motivação evangelizadora esteve presente no coração dos Frades Menores desde o descobrimento do Brasil com Frei Henrique de Coimbra, e mais particularmente esteve presente nesses 350 anos da nossa Província Franciscana da Imaculada Conceição, seja aquela antiga formada por frades portugueses como a restaurada por frades alemães a partir de 1891. É maravilhoso agradecer ao Senhor pelo vigor missionário de tantos Frades que construíram essa história de 350 anos.

  1. O senhor falou sobre expectativa como algo positivo e que também é uma conquista. O que o senhor espera de bom para o futuro da Província?

Se olhamos com gratidão aos 350 anos que se passaram, da mesma forma devemos confiar e acreditar que o Senhor construirá o nosso futuro. Não tenho uma fórmula mágica para dizer como este futuro poderia ser construído! Porém, uma certeza eu tenho, sem medo de errar, deixando-nos desafiar pelas palavras dos Papas Inocêncio III, Francisco e Leão XIV: Ide com o Senhor, Irmãos todos, pregai a Alegria do Evangelho no espírito da Laudato Sí, num caminhar sinodal como Igreja unida, sempre buscando a paz desarmada e a justiça na construção de pontes com o diálogo. 

  1. Nesses 350 anos, certamente houve momentos de alegria e também de desafios. O que o senhor acha que a Província mais aprendeu ao longo dessa caminhada?

Sim, houveram muitos desafios porque Deus nos conhece na fragilidade da nossa humanidade, Deus nos conhece na verdade daquilo que somos diante Dele. Por isso necessitamos sempre de suplicar o perdão e oferecer misericórdia a quem misericórdia necessita e procura. Mas o que a Província mais aprendeu, a meu ver, foi a paixão e a aventura no campo da evangelização/missão, a urgência da boa formação e da criação de centros educacionais, o interesse pelo mundo da ciência e da comunicação, sem perder o “espírito da santa oração e devoção”, pois onde este espírito faltou, o testemunho profético perdeu seu vigor.    

  1. Na sua opinião, o que é essencial no jeito franciscano de viver, algo que nunca se perde, mesmo com o passar dos séculos?

Para esta resposta gostaria de usar uma palavra de Santa Clara de Assis, em uma das cartas que ela escreveu a Santa Inês de Praga: “Não perca de vista seu ponto de partida”. Portanto, o que nunca podemos perder no nosso jeito ou modo de ser franciscano é a proposta originária deixada por São Francisco na nossa Regra e Vida: “A Regra e vida dos Frades Menores é esta: observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”, desdobrado na vida fraterna, vida oração, trabalho, pobreza, obediência, castidade, evangelização e missão, etc.   

  1. Como o espírito franciscano pode nos ajudar a enfrentar as dificuldades e viver com mais sentido, seja na paróquia, em casa ou no trabalho?

A espiritualidade franciscana oferece muita ajuda aos grandes desafios que vivemos no mundo atual, seja na família, no trabalho, na vida eclesial, social, política, econômica, ambiental e ecológica. Como? Começando pelo conhecimento e estudo das Fontes Franciscanas. Logo, é missão de toda a Família Franciscana e ajudar as pessoas na leitura e interpretação dos textos, começando, claro, pelo próprio testemunho de vida.  

  1. O que significa viver o franciscanismo no dia a dia?

Viver o franciscanismo no dia a dia é muito simples. Tem uma música, inspirada na mística de Francisco de Assis, que diz: “Se você quiser, servir a Deus, faça poucas coisas, mas as faça bem”. As poucas coisas não devem ser vistas a partir de medidas pequenas, principalmente se pensamos em pessoas acomodadas ou preguiçosas! A acento não está nas poucas coisas, mas no fazer bem feito aquilo que é a obrigação de cada pessoa. Sabemos que são Francisco detestava os “irmãos moscas” e elogia os diferentes frades da fraternidade a partir das virtudes diferentes que cada um possuía. O maior bem é colocar em comum a virtude com a qual Deus me presenteou. É virtude fazer bem feito aquilo que a vida me oferece e proporciona a cada dia, inclusive carregar a cruz com leveza. Afinal, o peso maior da cruz já foi suportado pelo Filho de Deus!     

  1. Que mensagem de esperança ou incentivo o senhor gostaria de deixar para todos nós, paroquianos, neste jubileu de 350 anos?

A primeira palavra é de gratidão aos paroquianos que nestes anos aqui nos acolheram para que aqui pudéssemos viver nossa vida penitencial, nos diferentes serviços e atividades apostólicas. A segunda palavra, tão grande quanto a primeira, é o pedido de perdão quando não correspondemos às expectativas alimentadas no coração das pessoas na nossa missão evangelizadora e do testemunho evangélico. A terceira palavra, tão importante quanto as outras, é esperança: sinto que muitas coisas ainda poderão ser construídas no caminho sinodal de comunhão e participação.

  1. Pensando no futuro, qual é o maior desejo que o senhor tem para a Província e para as comunidades franciscanas como a nossa?

Francisco de Assis usou de uma expressão significativa no final da sua vida: “Comecemos, irmãos, porque até agora pouco ou nada fizemos”. Que esta data dos 350 anos da Província não seja um mero olhar ao “retrovisor” da nossa história. Que olhemos, como peregrinos de esperança, aos desafios do nosso horizonte, pois é para este horizonte, com os novos desafios do mundo atual, que o Senhor nos chama para sermos testemunhas da sua voz.                                                                                                                           

       Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM                                                           

 

Deixe o seu comentário





* campos obrigatórios.

X