Quem caminha nas ruas próximas ao Vaticano, em Roma, encontra uma enxurrada de livros sobre o Papa Francisco. Biografias, análises e teorias da conspiração. A maioria das obras tem títulos impactantes. “O Evangelho do Sorriso”, “Mente aberta, coração fiel”, “Um papa do fim do mundo”, “Vida e revolução”, “O papa do povo”, “O milagre de Francisco”, “Porque ele comanda como comanda”, “O grande reformador”, “Até onde vai Francisco?”. Todos esses textos foram escritos nos últimos dois anos, desde a eleição de Jorge Mario Bergoglio ao trono de Pedro, e têm uma coisa em comum: as reformas do pontificado do Papa Francisco.
Bergoglio foi eleito para renovar a Igreja. A histórica decisão de Bento XVI de renunciar, em 11 de fevereiro de 2013, dizendo lhe faltar “vigor no corpo e na alma”, permitiu aos cardeais que elegeriam o novo pontífice antecipar o debate sobre os problemas que a Igreja vivia. Normalmente, com a morte de um papa, os cardeais são logo isolados em um conclave, do qual só saem depois da eleição do sucessor. No caso da renúncia de Bento XVI, que governou até o fim de fevereiro daquele ano, o conclave só começou um mês depois. Por mais de 30 dias, os cardeais puderam se articular livremente fora do conclave e debater o futuro da Igreja. Não é à toa que Francisco tenha sido eleito após somente dois dias de votação, em 13 de março.
Também não é à toa que o então arcebispo de Buenos Aires, na Argentina, tenha aceitado ser o novo bispo de Roma “em espírito de penitência”. Ele conhecia os obstáculos que encontraria. Algumas das reformas já haviam sido iniciadas por Bento XVI, como a reestruturação do banco do Vaticano, até então um terreno fértil para crimes financeiros. Também foi Bento XVI que iniciou a política de “tolerância zero” à pedofilia, substituindo bispos que não agiram com firmeza e instituindo organismos para estudar e resolver o problema. O Papa Francisco abraçou a causa e ampliou o combate, criando também uma comissão dentro do Vaticano. “O medo do escândalo não pode frear a limpeza”, disse o Papa, em fevereiro.
“A reforma da Cúria Romana não é um fim em si mesma, mas um meio para reforçar o testemunho cristão”, afirmou Francisco, também em fevereiro. Para criar uma nova estrutura para a Cúria, a administração geral da Igreja, ele nomeou uma comissão de nove cardeais. O mesmo grupo articula uma reformulação das finanças do Vaticano, sob o comando do cardeal australiano Dom George Pell, colocando a Santa Sé dentro dos padrões internacionais de transparência.
Seria possível listar várias das reformas da popularmente chamada “revolução Francisco”. Ele está mudando a configuração do colégio de cardeais ao nomear bispos de países pouco representados e de periferias. Está estimulando a colaboração dos bispos do mundo inteiro nas questões cruciais, aumentando a chamada colegialidade. Convocou um histórico Sínodo dos Bispos para discutir os problemas das famílias. Também está retomando o empenho diplomático da Santa Sé em questões de grande relevância internacional, como o conflito Israel-Palestina e o embargo dos Estados Unidos sobre Cuba. Está fortalecendo os laços com a Igreja Ortodoxa e outros cristãos, além dos judeus e muçulmanos.
Alguns estudiosos em Roma acreditam que o projeto de reforma de Francisco é um processo histórico que só poderá ser compreendido no futuro. O padre italiano Rocco D’Ambrosio, professor de Filosofia Política na Pontifícia Universidade Gregoriana, costuma dizer que os atos do Papa Francisco estão “em total continuação com as resoluções do Concílio Vaticano II”. Assim, o aggiornamento (atualização) já vinha acontecendo gradualmente. Agora, é reforçado pelo primeiro papa que não participou do Concílio.
O escritor e padre americano Dwight Longenecker, colunista do site católico Aleteia, escreveu em artigo que a palavra “reformador” não é precisa para definir o Papa Francisco. Ele sugere, em vez disso, “renovador”. “O Papa Francisco quer uma renovação na Igreja”, comenta. “A verdadeira ambição de Francisco é de voltar nossos corações e mentes de novo à simplicidade da mensagem do Evangelho.”
De fato, na exortação apostólica Evangelii gaudium (A alegria do Evangelho), Francisco diz: “O bem tende sempre a se comunicar. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade diante das necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem se enraíza e se desenvolve. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem”.
Fonte: site da Arquidiocese de São Paulo