Paróquia São Francisco de Assis

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A Representação do Presépio

O Natal bate às nossas portas e deve inundar nosso coração com a proximidade de Deus simbolizado nas imagens do Presépio. O presépio é a eloquente representação de que Jesus deve habitar em nossos corações e que o Redentor Menino é o centro e o “dono” da festa de Natal.

Em todas as casas, em todos os cantos da cidade deveria haver a representação da natividade de Nosso Senhor. O presépio é o símbolo mais contemplado do Natal cristão. O Presépio é a representação da cena do nascimento de Jesus, feita por meio de estatuetas de diferentes materiais; tradicionalmente preparado em casas e igrejas no período entre o Natal e a Epifania. Hoje desejamos também que estejam presentes nas vias públicas e nas praças.

O Presépio fascina e ao mesmo tempo nos faz sentir o espírito de Belém, a graça contagiante daquela noite santa em torno da manjedoura lugar do nascimento de Nosso Senhor. A cena tem seus principais elementos no estábulo, que contém a manjedoura onde Jesus é colocado, com Maria sua Mãe, São José, o boi, o burro, os três magos e os pastores. O acontecimento das Escrituras feito poesia através de imagens.

O presépio, tradicionalmente, tem ligação com a espiritualidade cristã e franciscana, pois foi idealizado por Francisco de Assis. Ele deixou esta marca tão preciosa e que se perpetuou na vida cristã e na cultura dos povos ao longo dos séculos.

Em 1223, exatamente em 29 de novembro, o Papa Honório III, com a Bula Solet, aprovou definitivamente a Regra dos Frades Menores. Nas seguintes semanas, Francisco de Assis foi ao eremitério de Greccio, onde expressou seu desejo de celebrar o Natal do Senhor. Na véspera de Natal em Greccio não havia estátuas ou representações, mas apenas uma celebração Eucarística em uma mesa, entre o boi e o burro. Só mais tarde este evento inspirou a representação da Natividade através de imagens, isto é, a cena da natividade no sentido moderno.

 Francisco era um homem muito prático, e para ele a encarnação sempre foi muito importante. A celebração de Greccio está situada precisamente neste contexto do Mistério de amor de um Deus que se faz humano para estar próximo dos seus.

O Natal de Greccio era conhecido por muitas pessoas que queriam retratá-lo e replicá-lo, começando a representar e a espalhar o presépio. Desta forma, tornou-se uma herança de cultura e fé popular que contagiou o mundo inteiro.

Hoje, o que significa e por que a Igreja convida os fiéis a representar, construir, realizar presépios em casa e em lugares públicos? A Igreja sempre deu importância aos sinais, especialmente sacramentais litúrgicos, supervisionando, no entanto, que eles não usurpem e nem dê lugar a uma espécie de superstição. Alguns gestos foram encorajados porque foram considerados adequados para a propagação do anúncio do Evangelho e entre estes podemos destacar o presépio em que a simplicidade direciona tudo para a centralidade de Jesus, o mistério sublime da encarnação. Nestes tempos em que muitas situações e decorações procuram sufocar o verdadeiro sentido do Natal, a representação franciscana do nascimento tem um lugar muito importante nesta mudança de época.

Qual a relação entre o presépio e a arte? Por que tantos artistas pintaram, esculpiram. Precisamente por sua plasticidade, o presépio se presta a representações em que o particular pode se tornar um sinal da concretude da vida cotidiana. E precisamente tais detalhes da vida humana; as roupas dos pastores; as ovelhas que pastam a grama; a criança presa à saia da mãe, e tantos outros detalhes, também foram representados como mais pistas para o realismo cristão que brota da própria encarnação. A diversidade de representações faz com que possamos interpretar que o presépio nem sempre é uma representação do nascimento de Jesus, mas sim, a encarnação do Verbo nas diversas circunstâncias da vida e da cultura humanas, pois nos presépios são representadas épocas, situações, cidades, etc.

Como São Francisco de Assis, todo homem e mulher precisa de sinais; alguns são incompreensíveis, enquanto outros pela sua simplicidade e rapidez ainda têm eficácia. Entre estes podemos colocar o berço e por isso a sua difusão é bem-vinda.

Frei Tomas de Celano, o frade que escreveu a vida de Francisco de Assis, dizia que ele imaginava a cena da Natividade. Quando Francisco foi a Belém, ficou muito impressionado com a representação preparada para o Natal.  Em seu retorno para Itália, ele se encontrou com o Papa Honório III e sugeriu recriar a atmosfera do Natal em Greccio. Naquela época, a representação dos dramas sagrados não era comum na Igreja, mas o Papa, no entanto, concedeu a Francisco, frade jovem entusiasta, que representasse a Natividade em Greccio, uma pequena cidade na província de Rieti, também chamada de vale santo, na região do Lácio.

Francisco escolheu Greccio porque lembrava muito a cidade de Belém. Ele foi ao seu amigo João que morava nesta cidade, e disse-lhe: “Eu quero comemorar convosco a véspera de Natal. Escolha uma caverna, onde possamos construir uma manjedoura e lá vamos colocar um touro e um burro, e tentar reproduzir, na medida do possível, a manjedoura de Belém! Este é o meu desejo, porque quero ver, pelo menos uma vez, com meus próprios olhos, o nascimento do Divino Menino de Belém”. (CF- 1Cel 84, 8).

Em seu desejo de tornar tudo visível e palpável, São Francisco quis encenar a natividade de Jesus, pelo Presépio; assim, no quadro da bela floresta de Greccio, a montanha Romitaggio humilde ravina do vale Santo de Rieti, em conjunto com a população do castelo, durante a celebração Eucarística, o pobrezinho de Assis queria representar o evento sagrado como relata o Evangelho, com o objetivo de recriar as condições para um encontro real com o mistério da encarnação.

O Santuário de Greccio é conhecido mundialmente por ser escolhido pelo Pobrezinho de Assis como a cena de um dos pontos altos e lírico de sua existência: a primeira comemoração da Natividade de Belém. São Francisco amava ternamente os habitantes da aldeia de Greccio.

Francisco sempre foi um amante da Eucaristia e do mistério da encarnação, Eucaristia e Encarnação referem-se à mesma escolha de um Deus que se humilha para a salvação da humanidade.

Na noite de Natal de 1223, em Greccio, no “Vale Sagrado”, o Poverello quis “lembrar-se da criança que nasceu em Belém e, de algum modo, vislumbrar os desconfortos em que se encontrava, como a falta das coisas necessárias para um recém-nascido e como foi colocado em uma manjedoura e deitado no feno entre o boi e o burro “(cf. 1Cel XXX – Fioretti- 468). Desde então, a espiritualidade franciscana continua a fixar seu olhar no mistério da Encarnação, com especial devoção ao Natal de Nosso Senhor.

Francisco de Assis chamou o Natal de “festa das festas”; mais do que qualquer outra solenidade, e celebrou-o com “um cuidado inefável” (cf. 2Cel 199- Fioretti- 787). Ele beijou a imagem do menino com grande devoção e gaguejou palavras de doçura à maneira das crianças, diz frei Tomas da Celano que Francisco descobriu no presépio de Greccio com profundidade a humanidade de Jesus, nascido da Virgem Maria, ele estava envolto em panos e colocado em uma manjedoura.

Na visão franciscana a ressurreição pressupõe a encarnação. O Filho de Deus como criança, como verdadeiro filho do homem; isto tocou profundamente o coração do Pobrezinho de Assis, transformando a fé em profundo amor. Ainda hoje, é tradição nos conventos franciscanos montar mais presépios, em diferentes ambientes de vida comunitária e, em particular, de igrejas. Em especial se vê isso nas monjas clarissas que, por todo o mosteiro, se encontram presépios para celebrar esse mistério da encarnação.

Ainda hoje entre as montanhas arborizadas Sabini, nas encostas do Monte Lacerone, podemos ver a aldeia de Greccio, que se abre para a vasta planície de Rieti; a partir do aparecimento de uma montanha medieval, com casas trancadas, reunidas em torno de uma praça com uma fonte central. Refazer algumas passagens da vida de São Francisco, neste lugar, é fundamental para entender como chegou a primeira representação da natividade, o presépio sagrado.

O Santuário de Greccio, conhecido em todo o mundo por ter sido escolhido como o teatro da reencenação da Natividade de Belém; um acontecimento crucial na história do cristianismo, é uma fusão extraordinária de arquitetura e natureza, já que suas fronteiras estão perdidas nos luxuriantes bosques de azinheiras que acolheram o ascetismo solitário de Francesco de Assis.

A noite de Natal no traz de volta a pequena Belém, naquele local onde nasceu o Menino Jesus, e referem-se também à importância que a festa do Santo Natal teve para o Pobrezinho de Assis. Foi ele quem estabeleceu a tradição do presépio, com a intenção de representar a condição de pobreza e simplicidade com a qual Deus escolheu tornar-se pequeno, tornar-se criança, ser acolhida pelos homens. O Natal é a epifania, isto é, a manifestação de Deus e sua grande luz por meio de uma criança que nasceu para nós. Nascido no estábulo de Belém, não nos palácios dos reis. Isso deve ter consequências práticas em nossas vidas, tanto no encontro com o Deus próximo de nós como também da simplicidade e pobreza a que somos convidados a viver.

O Natal tornou-se uma festa de loja, cujo brilho deslumbrante oculta o mistério da humildade de Deus, que nos convida à humildade e à simplicidade. Vamos orar ao Senhor para nos ajudar a olhar através das fachadas cintilantes deste tempo até encontrarmos a criança no estábulo de Belém por trás deles, a fim de descobrir a verdadeira alegria e a verdadeira luz desta solenidade.

Sejamos agraciados com o olhar de Deus que se manifesta ao coração simples. E nós rezamos nesta hora por todos aqueles que devem viver o Natal na pobreza, na exclusão, na condição de migrantes, para que possam sentir o amor, o cuidado e a ternura de Deus conservemos este olhar de São Francisco sobre o presépio de Nosso Senhor.

Ofertamos ao menino Deus nossa vida toda inteira, nossos sonhos e esperança, ao presépio levaremos o coração misturado com os desejos mais sinceros de lutarmos por um mundo mais humano, mais justo e fraterno; junto ao ouro que simbolizava o presente reservado aos reis e Jesus é o rei dos reis; o incenso: como testemunho de adoração à sua divindade, porque Jesus é Deus; e a mirra usada na oração pelos mortos, porque Jesus é um homem e um homem  na sua condição humana  também mortal.

A todos um feliz e Santo Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao redor do presépio fazendo memoria daquele grande acontecimento que marcou os rumos da história humana, a humanidade jamais foi a mesma desde a grande revelação do mistério da encarnação. Um Deus que se faz pequeno, frágil, menino, para estar conosco eternamente como o nosso Emanuel, o Deus sempre presente no meio de nós. Receba o abraço fraterno pela feliz ocasião da Grande Solenidade do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)


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